quarta-feira, dezembro 13, 2006

Rebentação…



Rebentação…

As horas passavam
E as ondas que fugiam
Não escapavam do meu olhar sôfrego.
Bastava a mim
Ter um sopro duma coragem sem fim
Para me fazer ao mar com novo fôlego…

Onda vem, onda vai,
Força imensa de espuma que rebenta e cai
Nos dez metros de areia à minha frente.
Dez metros imensos
Que de imaginar deixam-me os músculos tensos
Ao calcular avançar contra tal corrente.

– Mas como é possível passar este inferno?!
– Como superar estas ondas de Inverno
Que ante mim tudo detêm?
– Como raios superar este turbilhão,
Esta batalha com a rebentação
Que ameaça todos os que a ela vêm?...

E como, porém, se isso tiver conseguido,
Se ao mar lá longe tiver ido,
Como voltar?...
Voltar com as ondas por trás,
Será agir como um louco faz?
Como trazer-me a mim sem nada quebrar?...

Como?...

Como o tenho feito há anos e meses
Com erros e lições que aprendi tantas vezes
Tanto de bons como de maus momentos.
Com força de vontade
E destreza física que aumentou com a idade
Fruto de tantos tormentos;

Seguindo conselhos de amigos,
Registando memórias de tempos idos
E derrotanto medos, ganhando confiança.
Aprendendo a ser negligente,
A não ter medo de ser diferente
E a não perder a esperança;

Ultrapassando mágoas,
(Coisa que abunda nestas águas)
De Cascais…
Aproveitando os dias frios e quentes
Para sessões de treinos mais frequentes
Até não poder mais;

Encarando ondas cada vez maiores
Tornando os resultados cada vez maiores
Com cada vez mais companhia.
Dando-me melhor com quem quer que seja,
Rindo, gozando e bebendo cerveja
No final dum grande dia…

Enfrentando ondas do demónio,
Sentimentos de amor e ódio
Que me queimam a alma
Sendo que, um amor perecível,
Não é mais do que combustível
Para uma chama que não acalma…

E não é mais uma onda vaga
Que vai acabar com esta saga
Que há tempos vivo.
Esta de viver sem sentido,
De sair e entrar num amor sofrido
Que, contraditoriamente – sem o qual sobrevivo.

E então a ela me faço,
Ganhando forças em cada pedaço
Sentindo a espuma a mim chegar.
Só tenho que assumir
Que tudo perco se agora fugir
E para sempre me vou castigar!

E tomando o momento certo
Lanço ao meu corpo um decreto
Para que não se deixe abater agora!

Pois é chegada a hora
De correr, montar e navegar por este mar fora
E esquecer um amor incerto…

E passada a onda então,
Imagino e constato que não,
Não é tudo mentira.

Pois é esta rebentação,
Tão semelhante ao meu coração,
Que a todas ama… mas nenhum partido tira…

Tico

12.12.2006
19h37
Parede